Discurso Associação Brasileira do Agronegócio (ABAG)
Discurso de Jingtao (Johnny) Chi, Chairman COFCO International - Abertura Do Congresso Da Associação Brasileira Do Agronegócio (ABAG).
PARTE 1 – INTRODUÇÃO
Senhoras e senhores,
Muito obrigado pela recepção calorosa e um agradecimento especial à ABAG pelo convite para discursar a todos vocês hoje. É, de fato, um prazer estar aqui.
Estou particularmente satisfeito em ver tantos representantes de diferentes setores agrícolas e outras áreas de interesse no Brasil: agricultores, pecuaristas, produtores de oleaginosas, grãos, óleo de palma e açúcar, banqueiros, comerciantes, representantes do setor logístico, fornecedores de insumos e máquinas agrícolas, estudantes, sociedade civil, jornalistas e provavelmente outros mais! Hoje, quando olho esta sala e vejo todos juntos, fico ainda mais animado com nossa parceria. Essa parceria - entre a COFCO, nossos países, nossos negócios e nosso povo - está se fortalecendo.
E por que seria diferente? Desde 1974, quando Brasil e China abriram embaixadas em Pequim e Brasília, o comércio entre nossos dois países - que agora inclui a exportação e importação de soja, carne, tecnologia, ferro e petróleo, entre outros produtos e serviços em um número crescente de outros setores - cresceu de forma a beneficiar cada vez mais pessoas e empresas.
Juntas, as populações de nossos países somam mais de 1,6 bilhão de pessoas. Representamos as duas maiores economias emergentes dos hemisférios leste e oeste. Nosso crescente laço comercial é um dos mais importantes no mundo e, provavelmente, o mais dinâmico, especialmente na agricultura. Acredito que a próxima cúpula do BRICS em Brasília, que será realizada no final deste ano, melhorará ainda mais nosso comércio bilateral.
A COFCO, a empresa que represento, tem sido uma integrante fundamental desta parceria comercial. Nós importamos e exportamos alimentos e produtos agrícolas em nome da China desde 1949. Atualmente, a COFCO é a maior empresa de grãos, oleaginosas e alimentos da China, com uma missão de entregar produtos agrícolas não apenas para a China, mas para todo o mundo.
Em 2014, nós compramos outras duas traders: Nidera e Noble Agri. Com isto, investimos em mercados com oportunidades significativas de crescimento a longo prazo. Cinco anos depois, estamos conectando oferta e demanda em mais de 50 países e nos transformando e uma trader verdadeiramente global.
Somente no ano passado, nós movimentamos 106 milhões de toneladas de produtos agrícolas, incluindo grãos, oleaginosas, açúcar, algodão e café. Também temos registrado bons progressos na aproximação com os agricultores. Hoje, adquirimos mais de 40 milhões de toneladas diretamente deles. Queremos que esse número cresça para 60 milhões até 2022. Além disso, também tornamos nossas operações logísticas mais eficientes, produtivas, seguras e sustentáveis.
Grande parte disto tudo acontece aqui no Brasil, nosso principal mercado de compras. Em 2018, exportamos mais de 13 milhões de toneladas de grãos e oleaginosas do Brasil. Também temos negócios em café e algodão. Em todo o mundo, temos 11.000 funcionários, dos quais 7.500 estão aqui no Brasil.
Nossas usinas de açúcar esmagam 15 milhões de toneladas de cana de açúcar por ano e empregam mais de 5.500 pessoas. Nossa operação é conhecida por ser uma das mais eficientes do Brasil.
E esses números estão crescendo a cada ano. Esse crescimento foi alcançado em parceria com vocês. Outra razão para este cenário é o fato de nosso negócio ser "profundamente enraizado" no Brasil, onde continuamos investindo. Gostaria expressar minha gratidão a cada um de vocês aqui hoje, por todo este apoio.
PARTE 2 – APROFUNDANDO NOSSA PRESENÇA NO BRASIL
Estamos confiantes nessa expansão da COFCO no Brasil, porque podemos observar a forma como a demanda está crescendo na China e em todo o mundo. A população global alcançará 9 bilhões de pessoas até 2050 e precisaremos aumentar em 70% a produção de alimentos em relação ao que é produzido atualmente.
Na China, a demanda por alimentos - incluindo as carnes - está aumentando à medida que nossa crescente economia está contribuindo na melhora dos padrões de vida. Como as pessoas estão ganhando mais dinheiro, elas buscam dietas mais ricas em proteínas.
Tudo isso exigirá que o mundo comercialize, armazene, processe, transporte e distribua commodities agrícolas como nunca feito antes. Na COFCO, estamos nos posicionando para esse futuro, construindo parcerias de longo prazo com as regiões agrícolas mais importantes do planeta. Nosso relacionamento com o Brasil - com a ABAG e com todos aqui presentes - é vital para o sucesso de todas as partes.
Até o momento, grande parte desse sucesso se concentrou na soja. O Brasil é um dos maiores produtores do mundo e a COFCO se apresenta como uma grande e entusiasmada compradora. Esperamos adquirir 5% a mais de soja brasileira por ano dentro dos próximos cinco anos.
Imprevistos podem surgir no decorrer do caminho, como temos visto na relação comercial entre EUA e China. Todavia, na visão da COFCO, o relacionamento de longo prazo entre nossos países e nossos negócios se mostram muito sólidos. Nesta interação, um lado é um grande importador de commodities agrícolas e o outro é um país com enorme produtividade agrícola. Todos nós somos membros do BRICS.
É por isso que investimos aqui em infraestrutura, como armazenamento, processamento e portos. Nos próximos anos, pretendemos aumentar ainda mais nosso investimento em logística e novos silos. É claro que esses investimentos dependerão da existência contínua de um ambiente de investimento estável e previsível.
Na medida em que nossa parceria cresce fortemente, acredito que este seja um bom momento para nos perguntarmos: como podemos construir sobre aquilo que já temos estabelecido e aprofundar esta relação? Como podemos colaborar ainda mais?
PARTE 3 – O MUNDO ESTÁ MUDANDO PARA/COM A SUSTENTABILIDADE
O crescimento da população mundial exige que todos produzamos e comercializemos mais alimentos. E, para isso, precisamos de água, um clima estável e solos saudáveis. Precisamos desses insumos para cultivar nossa comida.
Em 1999, a China lançou o programa “Grain for Green” para converter terras aráveis de baixo rendimento e ecologicamente importantes em seus estados originais. Os agricultores que participam do programa recebem apoio financeiro do governo chinês. Até agora, mais de 33 milhões de hectares de terras aráveis foram convertidos em florestas e pastagens, com um investimento total de US$ 72 bilhões. O programa ainda segue em funcionamento.
A agricultura brasileira tem um grande potencial de crescimento. Ao mesmo tempo, o país é conhecido por seus recursos e belezas naturais, especialmente a floresta amazônica. Esses dois cenários não são contraditórios. O presidente chinês Xi Jinping elencou cinco conceitos de desenvolvimento de inovação, coordenação, verde, abertura e compartilhamento.
E, ao destacar o desenvolvimento verde no Belt and Road Forum for International Cooperation, o presidente Xi citou um antigo filósofo chinês ao dizer: "plantas com raízes fortes crescem bem". Nesse mesmo discurso, ele esboçou seus planos para a China, de forma a garantir que os investimentos no exterior sejam sustentáveis e que haverá crescimento de alta qualidade para todos.
Eu gostaria de enfatizar que a sustentabilidade precisa ser vista não apenas como proteção do meio ambiente, pois é muito mais que isso. A transição para a agricultura sustentável só pode acontecer enquanto os interesses dos agricultores e de outras partes que dependem do comércio de produtos agrícolas forem protegidos. No projeto "Grain for Green" da China, os agricultores receberam grãos e subsídios financeiros para garantir que seus meios de subsistência e interesses fossem protegidos. A agricultura brasileira deve permanecer competitiva enquanto estiver baseada na sustentabilidade ambiental e social. Por serem um grupo de importante de stakeholders, os produtores devem fazer parte do desenvolvimento e implementação de qualquer solução neste sentido. A COFCO quer acompanhar vocês nessa jornada.
Nesse espírito, minha equipe e eu estamos ansiosos para debater nesta conferência e ao longo dos próximos meses e anos: como podemos fazer isto juntos? Como continuamos a crescer de forma sustentável e vislumbrar a prosperidade das próximas gerações de agricultores?
Eu gostaria de compartilhar com vocês algumas de nossas ideias iniciais. Primeiramente, os mercados financeiros globais estão mudando. Investimentos sustentáveis aumentaram 34%, em torno de mais de US$ 30 trilhões nos últimos dois anos. As mudanças climáticas e a conservação ambiental são as principais questões para os investidores de todo o mundo e a confiança deles em empréstimos ecológicos está aumentando.
No mês passado, a COFCO International anunciou a vinculação de sua principal linha de crédito bancário, de US$ 2,3 bilhões, a metas de sustentabilidade. Esses empréstimos incentivam o alcance dos objetivos de desempenho ambiental, social e de governança do tomador de empréstimo, permitindo que uma margem acordada seja investida em programas que visam melhorar as práticas sustentáveis da empresa. Esta é uma demonstração clara de nosso compromisso em impulsionar ainda mais esta bandeira em nossas operações e cadeias de suprimentos.
A COFCO tem um enorme interesse em acessar esses novos modelos de financiamento e vemos um enorme potencial para outros modelos.
Para os produtores brasileiros, enxergamos uma grande oportunidade ao recompensar as contribuições sociais e ambientais em toda a cadeia de valor da agricultura. Por exemplo, a COFCO está realizando uma parceria com os agricultores para estabelecer um programa que facilite o financiamento de longo prazo para apoiar a expansão da produção de soja em terras já abertas. Esperamos que esta iniciativa possa oferecer incentivo financeiro adequado para a produção sustentável. O Brasil possui mais de 25 milhões de hectares dessas terras disponíveis para atividades agrícolas. Todos nós podemos produzir mais, melhor e por mais tempo.
Em segundo lugar, nós vemos potencial nos mercados internacionais de carbono. Dado o valor de sua natureza ambiental, você deve ser pago para protegê-la. Até os dias atuais os sistemas internacionais de pagamento por serviços ecossistêmicos não chegaram diretamente aos agricultores. Nós enxergamos uma oportunidade de conectar diretamente os agricultores aos mercados globais de carbono no valor de US$ 82 bilhões no ano passado. Um programa que estamos explorando visa termos agricultores sendo pagos por créditos de carbono gerados pela conservação de florestas ou reflorestamento de terras.
Em terceiro lugar, estamos desenvolvendo um projeto com parceiros do setor, incluindo empresas de insumos, seguros e instituições financeiras, com o objetivo de oferecer aos agricultores uma série de serviços - um balcão voltado para a negociação de financiamentos, seguros, insumos e aquisições de longo prazo. Isso incentivará uma atividade cada vez mais eficiente e sustentável.
Por último, estamos participando ativamente dos programas de energia renovável e biocombustíveis desenvolvidos no Brasil por meio de nossos ativos de açúcar, grãos e oleaginosas. Esperamos expandir ainda mais esses projetos com a intenção de apoiar os esforços do governo brasileiro na redução das emissões e combater as mudanças climáticas.
PARTE 4 – CONCLUSÃO
Concluindo, o Brasil se tornou um parceiro comercial confiável para a China e a COFCO. Embora esperemos obter mais de vocês nos próximos anos, queremos expandir a escala e a natureza de nossa parceria, inclusive canalizando mais financiamento e investimento para beneficiar fazendas e agricultores brasileiros.
Todavia, em um mundo turbulento e repleto de rápidas mudanças, a experiência nos ensina que a estabilidade e as perspectivas de longo prazo são ativos preciosos. Estamos ansiosos para discutir com vocês a melhor forma de preservar esta parceria no futuro.
Essa agenda traz novas incertezas, mas também trará oportunidades. Vamos aproveitar os temas abordados nesta conferência, usando-os para uma plena e produtiva troca de ideias, opiniões e experiências. Juntos, podemos superar quaisquer desafios que enfrentarmos, compartilhando os benefícios entre nós e, também, com as futuras gerações.
Obrigado.