“O setor marítimo precisa de mais mulheres para prosperar”
Entrevistamos Aylin Coskun, da COFCO International, uma das primeiras capitãs marítimas da Turquia.
Atuante em Istambul, Aylin Coskun é responsável pelas entregas da COFCO em navios de carga com mais de 200 metros de comprimento, transportando até 76 mil toneladas de grãos ou minerais. Mas a ex-oficial de expedição e uma das primeiras capitãs da Turquia diz que, em uma indústria dominada por homens, ela teve que provar suas habilidades repetidas vezes.
Existem poucos dados confiáveis sobre gênero no setor de transporte marítimo, mas uma figura - às vezes usada pela Organização Marítima Internacional (OMI) da ONU - diz que as mulheres representam apenas dois por cento dos 1,2 milhão de profissionais marítimos do mundo. Dessas mulheres, 94% estão trabalhando no setor de cruzeiros.
Questionada sobre os estágios iniciais de sua carreira a bordo de grandes navios de carga, Aylin, que agora é Chefe de Operações de Frete Supramax da COFCO, diz: "Foi difícil, fisicamente, mentalmente e de todas as formas possíveis." "E, como mulher, você tem que provar que pode realmente atuar na área", diz ela em seu escritório perto do Estreito de Bósforo, uma das rotas marítimas mais movimentadas do mundo.
"Sou uma das primeiras capitãs da Turquia e tive que trabalhar mais do que qualquer homem para conquistar minha posição." Algumas pessoas duvidaram de suas habilidades quando a conheceram, diz ela, mas mudaram de ideia depois que a viram em ofício. "Quando você ganha o respeito, ele pode levá-lo longe."
"Uma empresa pode criar uma força de trabalho decente quando ignora metade da população do mundo? De jeito nenhum".
O que vai acontecer, chefe?
Um acontecimento testou suas habilidades de liderança além de qualquer dúvida/suspeita. Muito antes de ingressar na COFCO, seu navio havia sido apreendido por mais de nove meses em um porto sul-americano. Como ela era a oficial sênior a bordo, muitas pessoas a procuraram para buscar informações/respostas.
“Eles me perguntavam: ‘chefe, o que vai acontecer, o que devemos fazer?’”, ela lembra. "Eu disse a eles para não entrarem em pânico e fazer tudo o que fosse necessário".
Aylin sempre amou o mar. Cresceu em Marmaris, uma pequena cidade no sudoeste da costa mediterrânea turca. Popular entre os turistas, a cidade é cercada por colinas com florestas de pinheiros e águas claras. Seu avô era capitão, enquanto seu pai também era envolvido com embarcações. "Eu amo o mar, sua energia, risco e natureza desde pequena", diz ela.
“A vida no mar será difícil”
A princípio, seus pais tentaram dissuadi-la de seguir na carreira. "Eles me disseram que a vida no mar seria difícil e que não havia mulheres nessa profissão". Mas quando ela explicou que sua paixão havia chegado para ficar, eles desistiram desta relutância e passaram a apoiá-la incondicionalmente.
Após concluir seus estudos marítimos na Universidade Técnica de Istambul, Aylin continuou a desenvolver suas qualificações e experiência, passando em exames, trabalhando para armadores e indo ao mar - inclusive na condição de capitã. Depois, ao ganhar experiência com graneleiros, chegou ao setor de comércio de commodities, primeiro com a Noble e, posteriormente, com a COFCO.
Na COFCO, a Aylin ajuda a garantir a entrega segura e pontual de mercadorias, embarcando-as para todo o mundo. Além de serviços internos, a equipe de Istambul também fornece transporte e transmite sua expertise a clientes independentes. A todo momento, a COFCO possui cerca de 200 navios no mar.
“Ser mulher nunca foi um problema na COFCO”, diz Aylin. Na equipe de operações de frete onde ela trabalha, cerca de 12 entre 20 pessoas são mulheres. E a única coisa que conta é que você não cria problemas, e sim os resolve.
"Sou uma das primeiras capitãs da Turquia e tive que trabalhar mais do que qualquer homem para conquistar minha posição."
O exemplo
"Eu entendo sobre os regulamentos marítimos e detalhamentos técnicos", diz ela. "E durante meus sete anos trabalhando em alto-mar, eu aprendi como sair de quaisquer situações difíceis."
Olhando para o futuro, Aylin diz que o crescimento do transporte marítimo exige o recrutamento de mais mulheres. Vinte anos atrás, na Turquia, apenas uma ou duas capitãs eram mulheres. O setor também precisa de capitães mais qualificados, o que atribui ainda mais sentido ao recrutá-las.
"Uma empresa pode realmente construir uma força de trabalho decente quando ignora metade da população?", diz Aylin. "De jeito nenhum."
“As mulheres também podem trazer uma perspectiva diferente, uma maneira diferente de resolver velhos problemas” diz Aylin. Contudo, as mulheres ainda estão sub-representadas na liderança marítima. O Objetivo de Desenvolvimento Sustentável da ONU sobre igualdade de gênero visa aumentar o número de mulheres em cargos gerenciais, uma meta que Aylin apoia.
"Continuarei a conscientizar sobre a importância da igualdade de gênero e a dar apoio às minhas colegas", diz ela, reconhecendo que se vê como um exemplo. "É o meu dever."