Discurso Financial Times Americas Commodities Summit

Gostaria de começar agradecendo o Financial Times por nos reunir. É um prazer estar de volta e, com base em experiências anteriores, estou ansioso para estimular o diálogo, passar um tempo com velhos amigos e fazer novos amigos também.

Para quem não me conhece, sou o managing diretor da COFCO International no Brasil. Entrei para a companhia após passagem pela ADM e tenho trabalhado na indústria de grãos e oleaginosas há mais de 30 anos.

Muitas pessoas nesta sala já conhecem a COFCO International, trader pertencente à maior empresa de agronegócios da China. A COFCO importa e exporta alimentos e produtos agrícolas em nome da China desde 1949. Desde então, a influência do Páis no cenário mundial aumentou, assim como suas ambições.

Hoje, a COFCO International possui 11 mil funcionários e ativos em todo o mundo. Em 2018, movimentamos mais de 100 milhões de toneladas de produtos agrícolas, incluindo grãos, oleaginosas, açúcar, algodão e café, com receita de US$ 31 bilhões. Além de colaborar com a alimentação na China, conectamos ofertas e demandas em mais de 50 países.

Estou confiante de que essa expansão continuará. A COFCO International está prestes a se tornar uma trader agrícola de alcance mundial, sediada na China e competindo globalmente. A companhia busca ser líder nessas cadeias globais de suprimentos.

O Brasil tem um lugar especial nestes planos, e é por isso que estou aqui hoje. As aquisições das empresas Nidera e Noble Agri em 2014 contemplaram importantes ativos e operações, que ainda formam a base de nosso trabalho na América do Sul. Cinco anos após essas movimentações, a COFCO ainda está animada com as oportunidades no Brasil. Dos 11 mil funcionários em todo mundo, cerca de 7,5 mil estão aqui.

Gosto de pensar que a COFCO também oferece possibilidades interessantes para os agricultores brasileiros e outros profissionais presentes na cadeia de suprimentos. Em meus encontros cotidianos por todo o país, tenho a clara impressão de que executivos do agronegócio e agricultores também compreendem essa oportunidade.

O Brasil já comercializa mais com a China que com quaisquer outros países. Por exemplo, em 2018, um terço de todas as exportações brasileiras foram para a China, sendo que grande parte dessas exportações foram de soja.

Afinal, a China agora responde por mais de 60% do comércio global de soja, acima dos 20% registrados há duas décadas. O país continuará sendo o maior comprador mundial de soja. Para o Brasil, isso tem um significado especial. Mais de 80% das exportações brasileiras da COFCO International tem a China como destino. Isso é bastante superior aos 30% registrados há apenas três anos.

Para continuar com este crescimento, nossa equipe espera aumentar suas compras anuais de soja em 5% nos próximos cinco anos. Estamos confiantes de que o Brasil pode cumprir essa meta, nos ajudando a alimentar a crescente demanda na China e em outros lugares. O Brasil é o principal mercado de fornecimento da COFCO e não vejo razão para que este cenário mude tão cedo.

Eventos recentes podem ter introduzido um pequeno grau de incerteza, mas a força e a resiliência do agronegócio brasileiro mostram que é improvável que qualquer impacto no país se materialize. A demanda chinesa crescerá e a COFCO continuará comprando soja do Brasil. O mundo viu, aprovou gostou e agora quer mais dos grãos brasileiros.

A COFCO International possui 9% do mercado de exportação de soja e milho do país e 20% do mercado de importação de trigo. Na China, A COFCO importa entre 15 e 17 milhões de toneladas, o que corresponde a 20% da participação de mercado no total das importações. A soja brasileira responde por 70% dessas importações.

Para continuar essa expansão, precisaremos investir em armazenamento e infraestrutura em transporte no Brasil. Entretanto, também é importante salientar que nossa equipe está expandindo a rede de agricultores dos 5 mil atuais para 7 mil no futuro próximo.

A longo prazo, todos nós precisaremos produzir mais com os mesmos recursos. A não ser que possamos fazer isso de maneira sustentável, ficaremos sem esses recursos. Mas isto também se dá é porque o consumo global e as demandas dos consumidores estão mudando. Os principais importadores estão preocupados com o meio ambiente e a marca brasileira foi afetada nas últimas semanas. Esses importadores ameaçam comprar de outras lugares.

O agronegócio brasileiro já fez progressos muito significativos para mitigar riscos sociais e ambientais. Muitas vezes, os agricultores alcançaram esse progresso sem receber nenhum apoio financeiro ou apoio extra. Este país fez mais do que muitos outros países da região e, sem dúvida, de todo o mundo.

A COFCO International está absolutamente comprometida em ajudar os agricultores e outros integrantes da cadeia de suprimentos na transição para a agricultura sustentável. A sustentabilidade é ponto crítico e crucial na expansão de nossos negócios e seguiremos com foco em regiões de baixos riscos ambientais e sociais.

Acreditamos firmemente na compensação ambiental e social realizada em toda a cadeia de valor da agricultura. Fazemos parte de um grupo de trabalho sobre o Cerrado que, em breve, vai propor um mecanismo para compensar os agricultores pela conservação promovida além dos requisitos legais da região. A COFCO também está em parceria com os agricultores para estabelecer um programa de financiamento de longo prazo que apoiará a expansão da produção de soja em terra aberta, da qual o Brasil detém mais de 25 milhões de hectares.

Na esfera corporativa, anunciamos recentemente um empréstimo de US$ 2,3 bilhões com um consórcio de 21 bancos internacionais vinculado à sustentabilidade, o maior já acordado para uma trader de commodities e o primeiro para a China. Os termos desse empréstimo estão ligados às nossas metas de desempenho sustentável aqui no Brasil, incluindo a rastreabilidade da soja. Esta é uma demonstração clara do nosso compromisso em impulsionar ainda mais a sustentabilidade em nossas operações e cadeias de suprimentos.

Já oferecemos rastreabilidade total em todas as fazendas de soja pré-financiadas no Brasil. Estamos desenvolvendo ainda mais a rastreabilidade das fazendas para todos nossos fornecedores diretos. Atualmente, estamos mapeando potenciais desafios ambientais e sociais em toda a nossa cadeia de fornecimento de soja. Esses dados nos permitem visualizar regiões onde os agricultores poderiam se beneficiar destes programas de apoio, os ajudando a iniciar a transição para métodos mais sustentáveis.

É fato que a população global chegará a 9 bilhões de pessoas até 2050 e precisaremos produzir 70% mais alimentos do que já produzimos - e de maneira sustentável. Acreditamos que o Brasil terá um papel ainda maior na produção global de alimentos e no atendimento à crescente demanda por commodities.

Nesse cenário, a COFCO é uma confiável parceira comercial para toda a cadeia produtiva. O Brasil é uma região importante para a companhia e estamos interessados ​​em investir mais em infraestrutura agrícola, financiamentos e mecanismos para beneficiar os agricultores brasileiros.

Obrigado pela atenção!