Nós podemos alimentar o mundo de uma forma sustentável, mas precisamos agir agora
O artigo a seguir foi publicado em 24 de janeiro de 2019 como parte da Reunião Anual do Fórum Econômico Mundial em Davos, Suíça. Por Jun Lyu, Presidente da COFCO Corporation.
O sucesso a longo prazo do setor do agronegócio depende dos recursos naturais e dos serviços ecossistêmicos que mantêm o círculo eficiente da produção de alimentos. O clima é um componente importante dessa equação. O aumento da temperatura, a mudança dos padrões climáticos e o aumento da frequência de eventos climáticos extremos associados a estes fatores afetarão significativamente o rendimento das culturas e desafiarão nossa capacidade de alimentar uma crescente população global. As repercussões disto nos negócios em termos de lucro, reputação e investimento serão catastróficas. Nesse contexto, as florestas são a forma mais econômica de manter o nível dos gases de efeito-estufa na atmosfera sob controle. A conservação das florestas é um elemento crítico para salvaguardar a produção agrícola futura e a segurança alimentar.
As cadeias de suprimento agrícola são vastas e complexas. Da fazenda à mesa de jantar, muitos profissionais trabalham para garantir operações eficientes. Como resultado, a conservação da floresta requer ações coletivas e coordenadas, levando em consideração questões ligadas à governança, financiamento, comunidades locais e comportamento dos consumidores. Essa complexa interação de questões e pessoas é claramente evidenciada na produção brasileira de soja. Embora tenhamos testemunhado algumas iniciativas bem-sucedidas em direção à produção sustentável do grão, como podemos progredir daqui em diante, para promover uma transformação em todo o setor?
Soja: o grão mágico na segurança alimentar?
Conhecida por ser a cultura proteica mais eficiente do mundo (contribuindo com até dois terços do total de alimentação animal), a soja tem o potencial de equilibrar o pêndulo de segurança e sustentabilidade alimentar do mundo. E, de fato, a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação pede que a produção do grão dobre até 2050.
Entretanto, este pequeno grão tem sido fortemente criticado por sua responsabilidade no desmatamento e pelo impacto associado às comunidades indígenas, especialmente na Amazônia. Esforços colaborativos como a Moratória da Soja, um acordo para proibir o comércio de soja derivada de terras desmatadas na Amazônia depois de 2008, viraram o jogo no desmatamento relacionado à soja. Os esforços coletivos agora precisam ser estendidos para outras regiões além da Amazônia, com produção de soja igualmente frágil, como o Cerrado, por exemplo. A taxa anual de desmatamento na Amazônia diminuiu significativamente desde o início dos anos 2000.
Parceria além da Amazônia
Apesar de mais discreto em comparação com a Amazônia, o Cerrado é um rico bioma que cobre 21% do Brasil. Com a produção de soja crescendo significativamente nos próximos anos, a indústria, seus parceiros da cadeia produtiva e outras partes interessadas devem tomar ações coordenadas para garantir que esse crescimento seja sustentável e responsável.
Uma alternativa poderia ser o incentivo ainda maior do cultivo de soja em pastagens já desmatadas para a pecuária. Mais de 25 milhões de hectares deste tipo de terra existem no Cerrado. Com os incentivos corretos para os agricultores, incluindo a compensação pelo desmatamento, podemos impedir uma conversão maior de florestas virgens e vegetação nativa. O Grupo de Trabalho do Cerrado está trabalhando nisso, trazendo comerciantes de soja, empresas consumidoras, instituições financeiras e organizações da sociedade civil na direção de um plano de incentivo viável. Esperamos informar sobre o progresso das atividades nos próximos meses.
Outra iniciativa promissora é a Aliança das Florestas Tropicais. Com mais de 150 parceiros de governo, empresas e sociedade civil, está impulsionando ações, especialmente no Mato Grosso, o maior estado produtor de soja do Cerrado. Ao facilitar a colaboração público-privada, vemos grandes oportunidades para conectar diretamente empresas a produtores sustentáveis de alimentos.
Iniciativas como essas são o que o Cerrado precisa. Mas o tempo está passando e o diálogo rapidamente precisa se converter em ações concretas.
Do diálogo para a ação
Os esforços contra o desmatamento ganhariam impulso significativo se mais participantes do mercado emergente, tanto nos países produtores quanto nos consumidores, buscassem em commodities sustentáveis.
Empresas, governos, sociedade civil, produtores e consumidores têm uma responsabilidade compartilhada no que diz respeito ao cumprimento dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU para segurança e sustentabilidade alimentar. Juntos, podemos ampliar as cadeias de commodities sustentáveis, livres do desmatamento. Vamos aproveitar esta oportunidade em Davos para levar adiante essa colaboração.