O round da negociação
Maria Fernanda Moreno Marcondes gosta de começar o dia com socos e chutes – praticar boxe e muay thai são parte essencial de sua motivação.
“Geralmente acordo às 5h30 para me preparar para o treino. Colocar as luvas e começar a chutar e socar me ajuda a colocar pra fora minhas frustrações e me dá energia para o dia”, diz Marcondes, Trader Sênior de milho e trigo da COFCO International, com sede em São Paulo.
Amor pela negociação de commodities
Marcondes nasceu e foi criada em uma pequena cidade do interior de São Paulo, cercada de gado, açúcar e soja. A maioria de sua família é médica, mas ela sabia desde cedo que suas habilidades não se adequariam a essa carreira.
“Quando eu estava no ensino médio, meus pais me mandaram para os EUA por um ano para melhorar meu inglês e então vi que havia todo um outro mundo lá fora. Voltei ao Brasil e decidi me candidatar a uma graduação em relações internacionais com o objetivo de ser diplomata e conseguir viver e trabalhar pelo mundo”, conta.
Isso mudou quando Marcondes se candidatou a uma vaga de trainee em uma trading brasileira focada em açúcar. Ela conhecia a cultura do açúcar desde a infância no estado de São Paulo e achou que seria um papel adequado para trabalhar em seu objetivo de ser diplomata. Mas então ela se apaixonou pelo comércio de commodities. Depois de trabalhar no negócio por vários anos, em Genebra e no Brasil, ingressou na COFCO International em 2019.
“Sou a diferente da minha família porque não me tornei médica. Mas eles ainda estão orgulhosos de mim e eu amo o que faço”, diz Marcondes.
Falando o dia todo
O trabalho de Marcondes vem com muita pressão, então uma chance de relaxar e manter o foco é importante. Ela é responsável pelo programa de exportação de milho do Brasil, representando 3 milhões de toneladas métricas provenientes de agricultores para o porto e outros 3 milhões de toneladas métricas compradas de terceiros para a cadeia de suprimentos da COFCO International. Atualmente, ela também é responsável pela unidade de negócios de trigo, representando cerca de 2 milhões de toneladas métricas de trigo, entre distribuição doméstica no Brasil, programa de exportação e importação.
Antes da colheita de cada safra, Marcondes e equipe elaboram um orçamento com base nos armazéns e ativos necessários e nos contratos take or pay (TOP) que possuem com portos de terceiros. O principal objetivo é otimizar a originação do interior ao porto em tempo hábil de cumprir os compromissos logísticos.
“Quando o mercado abre, ficamos com frio na barriga. Se for um bom dia de originação, podemos movimentar muito milho dos agricultores e isso é o melhor. Se no final das contas, vejo que compramos uma boa quantia, com excelentes margens, isso significa que cumprimos nossas metas e isso é uma ótima sensação”, diz Marcondes.
“O maior desafio é acertar o timing de compra e venda e garantir a execução tranquila de todo o nosso programa de exportação e distribuição doméstica. Tenho que falar com todos, em todos os lugares, o dia todo, dentro e fora da empresa. Há muita informação e então é uma aposta baseada nesses dados.”
Acalmando a alma
O Brasil normalmente consome 12 milhões de toneladas de trigo, mas produz 6 milhões de toneladas. O restante é importado, principalmente da Argentina, onde a COFCO International é a principal originadora. Com o terminal da COFCO International em Santos, no Brasil, consegue assim fazer uma ligação direta entre a origem e a procura de trigo, vendendo diretamente á.
A equipe de seis pessoas de Marcondes trabalha em estreita colaboração com a equipe de originação para saber exatamente o que está acontecendo com os agricultores, com as taxas de câmbio e na Chicago Board of Trade (CBOT), o que os concorrentes estão fazendo e com a mesa central da COFCO International em Genebra. A chave é ler e descobrir o que está acontecendo em todo o mundo.
Garantir que os produtos sejam cultivados, adquiridos e transportados de maneira sustentável é cada vez mais importante para os compradores de milho e, portanto, para os negócios da COFCO International. A equipe de Marcondes trabalha em estreita colaboração com o departamento de sustentabilidade da COFCO International para garantir salvaguardas sociais e ambientais adequadas.
“Nossa equipe de originação tem uma lista de agricultores e áreas onde não devemos comprar, por questões ambientais ou trabalhistas, e estamos constantemente atualizando isso”, explica ela.
Energia e ação
Mas isso é apenas uma das coisas que Marcondes realmente valoriza em seu trabalho e na empresa.
“A melhor parte do trabalho é conversar com as pessoas e fechar um negócio que seja bom para a empresa. A sensação é que, sim, sei para onde meu mercado está indo, sei que vou entregar os produtos que meus clientes precisam e ganhar dinheiro para nossa empresa. E é ótimo”, diz ela.
Outro aspecto importante é que Marcondes se sente capacitada para fazer mais do que apenas o que está na descrição de seu trabalho. A empresa irá apoiá-la para assumir mais independência e responsabilidade, dentro dos limites de suas políticas e procedimentos. Isso proporciona um controle rígido do risco, ao mesmo tempo em que dá às pessoas a liberdade de fazer mais do que os requisitos básicos. A natureza internacional do negócio – lidar com clientes em países como Japão e América Central, conversar com colegas em Genebra e visitar sites da COFCO International em todo o mundo – também atrai alguém cuja ambição era ser diplomata.
“Sinto que posso causar impacto com o que estou fazendo e há a possibilidade de trabalhar onde você quiser. Se você quiser ir a algum lugar, então você pode se movimentar. Já me mudei bastante, mas gosto que as oportunidades de viajar estejam aí”, diz Marcondes.